Fabrício Renner de Moura

Graduado e Mestre em História, e, Especialista em Campo Social:práticas/saberes. Nesse espaço busco revisitar discussões e interpretações sobre História regional e local, assim como outras dimensões historiográficas.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Cruz Alta: a cidade dos populares - Herondinas, Antônios, Victórias....

As narrativas sobre a história urbana de Cruz Alta, principalmente a partir do limiar do século XX, debruçaram-se, por muito tempo, sobre interpretações historiográficas estáticas e definitivas. Um consenso historiográfico incomodo e perturbador, que possivelmente com a Proclamação da República em 1889, instituiu-se e influenciou diretamente as produções históricas do município, que sem ressalvas, atribuiram a velha Vila do Divino Espirito Santo ares modernos e progressistas a par de qualquer resistência.
Tem-se a ideia de que repentinamente, práticas cotidianas e espaços públicos considerados ultrapassados e antiquados, foram modificados e passaram a reproduzir sem contestações os valores civilizados trazidos da Europa, da capital federal, Rio de Janeiro, e, da capital do estado, Porto Alegre.
De forma linear e sem levar em consideração as particularidades locais, e ainda, a presença de um tecido social diversificado, constata-se que o processo civilizador em Cruz Alta reproduziu naturalmente os modelos dos grandes e médios centros urbanos, desconsiderando os conflitos, as temporalidades e as ilusões das mentes iluminadas de comerciantes, empresários, professores, médicos, estancieiros e políticos que idealizavam uma cidade perfeita.
Dessa forma, buscamos analisar, discutir e recriar a história de Cruz Alta durante a República, trazendo as experiências de homens e mulheres afortunados e desafortunados que traçaram a cartografia social e urbana da cidade. Percorrer, assim, um território pantanoso e diversificado que ao longo do tempo (desde o século XIX) foram interprados pela literatura (contos, crônicas e poemas), pela arte (músicas, pinturas, fotografias e apresentações teatrais) e pela História.
Assim, cabe aqui correr o risco de desfazer chavões comuns atribuídos ao periodo em estudo, na qual subentende-se que o processo de modernização fora linear e sem custos financeiros e sociais; e designações preconceituosas, ainda pouco abordadas na historiografia, difundidas na época e que ainda repercutem no presente, como a mulher pobre, mãe de família, lavadeira e prostituta, o operário ignorante, jogador, alcoolotra e morador do subúrbio e o carroceiro qualificado como arruaceiro e sujo, fundamental nos serviços de transporte de cargas, de mercadorias e de passageiros, entre outras atividades.